Antropologia Poética - O Gaúcho

Com Martín Fierro, o épico poema gauchesco de José Hernandez, que o gaúcho foi imortalizado, onde a mescla da sensibilidade com a brutalidade faz com que o gaúcho seja um homem único, extremamente espiritual e guerreiro, deixando de ser uma figura fora da lei e ignorante, para se tornar um sábio herói das terras do sul da América do Sul.
Mais solitário que o beduíno árabe, mais bélico do que o cossaco russo e mais poético e artístico do que os trovadores ibéricos e occitanos, o gaúcho como figura física a cavalgar nas planícies do sul representa a união do vertical com o horizontal, do despertar do espírito em matéria.
Filho de piratas e de cavaleiros ibéricos ( sobretudo galegos, bascos e maragatos ) nasce e cresce em uma terra sem lei, sem rei, sempre acompanhado de seu cavalo e de seu cachorro, se expandindo da pampa oriental até a patagônia, dominando o sul em uma cavalgada que representa o domínio de si mesmo. Filho de colonizadores que vieram pelo mar, odeia todos que vivem pelo mar tanto quanto ama a sua terra.Mais telúrico do que a maioria das populações mundiais, o céu que se une à terra no horizonte plano, o frio e o vento são características da sua terra e de seu temperamento.
Contrário às elites políticas, o gaúcho é o único que pode morrer pela Pátria, como ocorreu com Artigas, com Rosas e com a Revolução Farroupilha. Contrário às castrações e ao formalismo estrangeiro da Igreja, é o mais fiel e mais espiritual dos homens, ao ponto de organizar rosários e procissões todas as semanas quando é ausente a figura do sacerdote . Contrário às fronteiras impostas, pois é um homem livre, foi o primeiro homem sul-americano a defender a união dos povos do sul. Extremamente quieto e silencioso, o gaúcho pode se tornar o guerreiro mais mortal quando sua honra é ferida, tal qual as brigas de "cuchillos" presentes na obra de Jorge Luis Borges.
A figura do gaúcho nasce na Pampa Oriental ( Uruguay, sul do Rio Grande do Sul e Nordeste argentino ) pelo século 18, confinando na planície presente entre o Oceano Atlântico e a Cordilheira dos Andes, que é formada pela patagônia e pelo pampa.
É identificado como um cavaleiro solitário, um selvagem isolado do mundo e da sociedade. Um nômade à cavalo, antagônico às leis e à convivência social.
Entretanto, com uma alma nobre, resultado do seu amor pela música, pela poesia e pela beleza da natureza.
Por isso se converteu em um personagem épico da história sul-americana, seguramente mais profundo, mais espiritual, mais humano e mais sugestivo do que o cowboy norte-americano.
Em um mundo onde as ligações da terra com o homem não existem mais, podemos encontrar alguns casos que surpreendem, como é o do mito gaúcho, que ainda hoje está vivo na cultura hispânica.


Por - João. P. Arrais.

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