Aut Sanctam Ecclesiam Catholicam, Aut Nihil

Missa Tridentina na Argentina

“[...] substituem a religião por um sucedâneo com que enfeitam a alma como se enfeita uma capela privada, ornamentando-a com ídolos trazidos de todas as partes do mundo. Ou criam sucedâneos de todas as possíveis formas de experiência, aos quais atribuem a dignidade mística, para trafica-los no mercado de livros. Ora, tudo isso não passa de uma forma de charlatanismo, de maneira de se iludir a si mesmo[...].
Enquanto tentarmos produzir intelectualmente novas religiões, chegaremos, em nosso âmago, na ausência de qualquer nova e autêntica profecia, a algo semelhante e que terá, para nossa alma, efeitos ainda mais desastrosos. As profecias que caem das cátedras universitárias não têm outro resultado senão o de dar lugar a seitas de fanáticos e nunca produzem comunidades verdadeiras. Àquele que não é capaz de suportar estoicamente esse sistema de nossa época, resta apenas dar o seguinte conselho: volta em silêncio sem dar a teu gesto a publicidade habitual dos renegados, com simplicidade e recolhimento, aos braços abertos e cheios de misericórdia das velhas Igrejas. Estas não lhe levantarão dificuldades. Seja como for, terá, desta ou de outra maneira, de fazer – é inevitável – o “sacrifício do intelecto”. Não o condenaremos, se tal efetivamente conseguir. Pois esse sacrifício do intelecto em prol da dedicação religiosa sem condições é eticamente muito diferente daquele rodeio do puro dever de probidade intelectual, que emerge quando alguém já não tem a coragem de se clarificar a si mesmo acerca da sua postrema tomada de posição, mas aligeira esse dever pelo recurso débil da relativização. Para mim, aquela dedicação é mais elevada do que a profecia de cátedra que não está interessada em saber que, no espaço de um auditório universitário, só deve existir uma virtude: a simples probidade intelectual. Mas ela obriga-nos a constatar que a situação de todos os que hoje esperam novos profetas e salvadores é a mesma que ressoa nessa bela canção da sentinela edomita, da época do exílio, recolhida nas profecias de Isaías: Uma voz me chega de Seir, em Edom:
'Sentinela, quanto durará ainda a noite?'
Responde a sentinela:
'Há de chegar a manhã, mas ainda é noite. Se queres perguntar, volta de novo.'
O povo a quem isto foi dito perguntou e esperou durante mais de dois mil anos, e todos conhecemos o seu impressionante destino. “


Max Weber, in "Ciência e Política - Duas vocações".

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